quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Forte demais


Às vezes gostava de saber se estas coisas só me acontecem a mim. Detesto sentimentos de vitimização mas acabo por tê-los quando sinto que o mundo e a redacção se viram todos contra mim.
Ontem, quando pensava que o meu dia não seria mais básico do que uns meros telefonemas de casos do dia, eis que, ainda durante a manhã, o meu editor me avisa que sairá a reportagem sobre os alunos de arquitectura.
Fiquei feliz mesmo que esse anúncio tenha vindo acompanhado de uma série de mudanças que deveria fazer no artigo antes de ser publicado. O desafio não era grande, embora ele me tenha dito que poucas pessoas perceberiam aquilo de que se tratava o tema. Minutos depois surge o segundo desafio do dia: a fotografia. Não tinha levado fotógrafo comigo no dia em que falei com os estudantes de arquitectura. Por acaso tinha-me lembrado disso mas como acho que essa decisão não me cabe a mim e como até pensei que a dimensão do trabalho não fosse assim tão grande, não me preocupei. Mas enfim. O raspanete acabou por cair como uma bomba. Não tinha foto. E agora?

Ele disse que ia tratar de falar com um fotógrafo, à pressão, enquanto eu deveria falar com os alunos e tratar de saber a disponibilidade deles para uma "sessão fotográfica" na redacção. Ficou combinado para as 17h15. "Óptimo!" diz ele. "Mas faz sentido fotografar a cara deles?", perguntou. Eu disse que não sabia bem. (Mas afinal sou fotógrafa ou quê?) "Mas, oh filha.. tu é que fizeste o artigo.. tu é que deves saber! Mas afinal o que é que defendem eles?" Meti os pés pelas mãos e percebi que, afinal, eles não defendem nada de concreto e estavam a fazer-me passar por uma situação daquelas em que, supostamente, a jornalista, que sou eu, também não sabia do que estava a falar.

Minutos depois, enquanto tentava transformar a minha reportagem em algo acessível, diz-me o editor que "afinal a reportagem já não ia sair amanhã", mas a sessão de fotografias podia ficar marcada para "não voltar a acontecer o mesmo". Safei-me do stress, mas não me livrei do raspanete, mais uma vez, nem do sentimento de tristeza...
A tarde passou monótona. Mais uma vez a falta de ocupação. Mais uma vez o sentimento de inutilidade.
Os estudantes chegaram à hora marcada. Um fotógrafo transformou o terraço (que eu nem conhecia) numa espécie de estúdio e lá fotografou os jovenzinhos.
Ao fim do dia, antes de abandonar este espaço com o milésimo sentimento de estupidez, ouço alguém falar no meu nome para um trabalho na manhã do dia seguinte... Quis saber o que era mas o editor estava ocupado. Esperei e aguardei até que ele me disse que "afinal já não tinha nada. Foi adiado. Amanhã não ficas com nada".

Que novidade!

Que tristeza!

Que monotonia.

E diz-me aquilo com aquela naturalidade, como se o meu maior sonho fosse não fazer nada pelo enésimo dia consecutivo.
Cheguei a casa e chorei. Até não poder mais. Até não aguentar mais. Dei parte fraca. Foi um dia forte. Demais.

2 comentários:

wild disse...

E todos temos dias assim...

Monique Mendes disse...

Chorar é algo só dos fortes!

Abraço querida *