Ontem, em conversa com uma colega de estágio, ela referia-se a alguém que já havia estagiado no Público e queixava-se de que, aqui, eles "só nos vêem os calcanhares".
Fiquei a pensar naquilo como se, de repente, a expressão passasse a fazer sentido e a aplicar-se a todas as situações do meu dia-a-dia.
Ver os calcanhares quando o noss corpo mede cerca de 1,60m é muito pouco. Olhar para os calcanhares quando temos tanto para mostrar e nos esforçamos por fazer o melhor é frustrante e pouco digno.
Acho que nem me posso queixar muito. Embora haja dias em que o trabalho não é em excesso, em que me sinto um total "mono" arrumado para um canto, há outros em que aquilo que há para fazer até compensa os dias menos bons.
Mas quando a Anabela me falou em "calcanhares" parece que tudo deixou de fazer sentido para me obrigar a pensar no real sentido das coisas.
Escrever sobre uma apreensão de droga, um esfaqueamento de um segurança, uma senhora que foi atropleada por um comboio deixa-nos poucas margens para mostrar a nossa qualidade.
Já tive várias oportunidades de desbundar à larga. Recordo com alegria a única reportagem que realmente me deu prazer a fazer e a escrever: a do Conservatório de Música do Porto e da Escola Soares dos Reis. Cinco mil caracteres. Que nunca tiveram um lugar no jornal. Será que algum dia irão ter? Do mesmo modo, há uma peça minha de cerca de quatro mil e tal caracteres a aguardar que se lembrem dela. Está na desk.
Se calhar por isso é que só me vêem os calcanhares. Porque quando quero mostrar os pés, não querem vê-los. Ou não têm tempo ou espaço para isso.
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