segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

It's Over

Tudo terminou com um "Adeus" e um "Feliz Natal".
Não é que tenha custado. Não é que já não estivesse à espera.
Mas foi como a dor da morte. Sabemos que ela virá, mais tarde ou mais cedo. Mas nunca estamos preparados para a sua chegada.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Recta Final

Para minha grande alegria, eu e todos os estagiários fomos propostos a permanecer durante mais uma semana no Público.
A ideia é adiantar trabalhos que possam sair na época de Natal (quando as notícias escasseiam) e poder também concluir reportagens que tivessemos pendentes.
Fiquei feliz mas, no fundo, foi só adiar um mal irremediável.
Depois de amanhã será o dia da grande despedida. Despedir de dias de desespero, de tristeza mas, acima de tudo (e confesso que, no princípio, nunca pensei poder vir a dizer isto) da maior aprendizagem que alguma vez poderia vir a ter.
Cresci muito aqui no Público. Enquanto pessoa, mas acima de tudo enquanto profissional. Aprendi a ver a vida com outros olhos, a separar o que é notícia daquilo que é manipulação e a compreender que os erros se corrigem com palavras duras. É com elas que se cresce, mesmo que doam muito a ser ouvidas. São elas que nos mostram aquilo que somos, aquilo que não somos e aquilo que devemos ser.
Dentro de dois dias, tudo se irá isvair como uma nuvem de fumo que viveu durante três meses dentro da minha cabeça.
Pela primeira vez começo a sentir tristeza por abandonar aquela que foi a minha vida durante três meses. Vou ter saudades do ambiente que aqui vivi, das pessoas que conheci e principalmente de tudo aquilo que aprendi. Sinto que trabalhava com força de aprender, com a consciência de que os erros iriam ser corrigidos. É isso que nos faz crescer.
Estou na recta final e faltam apenas três dias.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Contente?

"O administrador da empresa onde foste na segunda-feira elogiou muito o teu texto. Disse que, vindo de uma estagiária, estava muito bom".
Quem me conhece sabe que detesto que me elogiem, aliás, que não lido muito bem com isso.
Mas quem não ficaria contente?
Falta pouco mais de duas semanas para tudo isto acabar e parece que me sinto triste.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Contagem Decrescente

Faz precisamente hoje dois meses desde que comecei o estágio.
Dois meses de difícil balanço, de dias cheios e vazios. Mas, sem sombra de dúvida, dois meses de imensa aprendizagem. Às vezes penso que o meu barco é pequeno demais para tanta coisa para a qual comecei a olhar com outros olhos. Tanta coisa que aprendi. Coisas que, ao início, bateram contra a minha cabeça dura de uma forma brusca mas que, depois, foram sendo digeridas aos poucos. Engolidas pouco a pouco e... compreendidas.
Acho que só posso levar coisas boas daqui. Mesmo que, ao início, tenha chegado convencida de muita coisa e me tenha custado aceitar o contrário.
Com dois meses de distância consigo ouvi-las de uma forma mais profunda, compreendê-las com calma.
É o último mês de uma caminhada que, embora por vezes me tenha parecida longa, passou quase a voar. Talvez porque os dias são quase todos iguais: sempre a aprender.
Falta um mês. Começo a contagem decrescente para um futuro que não sei, ou talvez não queira saber, qual será.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Contente é pouco

Hoje o meu editor, Álvaro, disse-me: "Li o teu texto do Inner City" e fiquei muito contente.

Querem saber o tamanho da minha satisfação? Não consigo avaliá-lo.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Textos da Anita

Na quinta-feira da semana passada passou-se uma das situações mais embaraçosas desde que estou no Público.

O meu editor, Álvaro, pediu-me para o acompanhar junto de uma jornalista que se senta do outro lado da sala. Apresentou-nos e disse-me que, no dia anterior, quando tinhamos estado a corrigir aquele meu texto que mereceu abertura de secção, ela lhe tinha dado "um ralhete por" minha causa. As palavras dele foram estas. E a minha cara deve ter sido de pavor, de confusão de... "porquê?"

"Acho que ele foi muito bruto contigo!", disse-me com ar de clemência a Natália. É fácil imaginar que a minha expressão deve ter passado por uma fase que não sei qualificar. "Oh, não foi nada", disse eu, quase a cair para o lado.

"A Natália acha que eu disse que o teu texto parecia retirado de um livro da Anita", disse-me o Álvaro. "Mas eu expliquei-lhe que utilizei esse exemplo só a propósito de uma frase tua, que achei demasiado infantil, não foi Cristiana?", continuou querendo justificar-se. "Foi, foi só por causa de uma frase", disse eu anestesiada, como se estivesse a ser subornada em silêncio pelo olhar de autoridade do Álvaro.

Convicto de que, ali, a surpreendida era eu e que, afinal, tudo não passou de um mal entendido, o Álvaro saiu de lá e eu permaneci, colada ao chão, a olhar para a Natália, sentada e ainda com o mesmo ar de pena que me fez corar até à raiz dos cabelos. (esta expressão era escusada... eu coro por tudo e por nada, mas enfim).

"Agora a sério... Ele foi bruto. Ele é muito bruto a falar com as pessoas e não podes deixar. Sê bruta com ele também", disse-me ela. Eu, ainda atarantada, disse que "já estava habituada". Não sei se ela percebeu que aquela pequena frase era a explicação para tudo, que não era preciso eu dizer mais nada. Por isso disse-lhe "obrigada", como se ela fosse minha advogada de defesa, e saí.

Quis tanto chorar que nem sabia bem porquê.

Toda a gente da redacção ouve a forma como ele fala comigo (e com os restantes estagiários, penso eu). Já tinha duvidado disso, mas obtive, naquele dia, a confirmação. E doeu tanto...

Continua a doer cada vez que penso nisso. Porque penso na ideia que transparece para as pessoas que o ouvem. Naquele dia permaneceu a ideia de que eu escrevia textos da Anita.

Balanço? ou Balança?

Passou-se mais de um mês e meio desde que cheguei ao Público.
Continuo sem saber bem como qualificar todos os meus dias cá. Ontem o meu pai perguntava-se se acho que gostam do meu trabalho.
Para ser sincera, fica-me a clara sensação de que não gostam. Sou tão pequena e tão ingénua que é pouco provável que possam sequer pensar em apreciar aquilo que faço.
Gosto quando os meus textos saem quase na íntegra na edição impressa sem que sejam quase alterados. Ontem aconteceu isso com dois trabalhos e fiquei contente. A verdade é que quem os corrigiu foi o sub-director. Se, por um lado, ele adopta uma posição superior na hierarquia de cargos do jornal, por outro, temo que o facto de não ter quase alterado nenhuma palavra ao meu texto se possa prender com outras razões que não a qualidade do meu trabalho.
Será que não o fez porque não teve tempo? Será que não valia a pena?
Ou será que, se calhar, quem sabe, até nem merecia alteração?
Também creio que, como sub-director, não queira deixar passar um texto de má qualidade.
Mas tudo isto ainda me faz confusão quando não se obtém qualquer feedback sobre todo este percurso que por aqui faço.
Não consigo fazer um balanço, nem que me peçam. Sinto que ando, por aqui, a balançar...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A maior alegria

O dia de ontem foi provavlemente o mais importante ou, pelo menos, o mais recompensador de todo o meu estágio. E surgiu, ironia do destino, precisamente a meio deste percurso de três meses.
Consegui que saisse a reportagem que tanto gostei de fazer. E o editor decidiu abrir o caderno com ela.
Provavelmente vai passar ao lado dos leitores, quem sabe nem os chame à atenção... mas, para mim, foi a maior alegria que me poderiam ter dado.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Montanha Russa


Às vezes (não muitas, mas algumas) há quem me pergunte como está a correr o estágio.

Nunca sei o que responder. Não quero dar uma reposta negativa para não transmitir um péssimo feedback de tudo o que acontece cá. Mas a resposta nunca é de tal empolgância que me mostre radiante com a nova experiência.

Talvez o melhor a dizer seja que tudo se trata de uma verdadeira montanha russa. Passo a maior parte dos dias em queda livre, numa experiência emocionante de novas aventuras, novos textos, novas lutas com o limite de caracteres. Com o passar do tempo, a quantidade de trabalhos vai surgindo, a agenda vai tendo um ou outro assunto reservado para mim. Fico contente quando assim é. Gosto de estar ocupada e de desbravar esse caminho sozinha.

Gosto de ter oportunidade de demonstrar aquilo que valho, mesmo que os desafios sejam grandes e por vezes me sinta perdida, pequena, sem capacidades para contornar os obstáculos.

Já chorei, já tive medo. Mas aos poucos a confiança vai-se adquirindo.

Como numa montanha russa em que o medo vai fugindo por debaixo dos carris e à medida que o vento na cara é tal que parece que nos corta a respiração.

Subir e descer como quem procura o infinito. Aguentar as quedas com a força de quem quer subir alto, até atingir o céu.

É assim que enfrento o dia-a-dia. Cada dia como um novo percurso, uma nova aventura, uma tal de subtil confiança.

Mesmo que nunca tenha gostado de aventuras, mesmo que deteste montanhas-russas, mesmo que nunca tenha entrado numa. Quem nelas anda, diz que é assim. E eu acredito. Como gosto de acreditar que, um dia, hei-de estar pronta para encarar esta vida de altos e baixos que o Público me tem dado.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Duas pessoas, dois sentimentos

A semana começou bem... um telefonema no domingo a prometer um trabalho para segunda. Qualquer outra pessoa ficaria preocupada, apreensiva ou nervosa. Eu fiquei preenchida por uma felicidade inexplicável. Parece que as coisas se começavam a equilibrar.
Terça-feira, mais um telefonema. Desta vez pelo próprio editor que "gostava que eu fosse à apresentação do novo Hospital de Santa Maria". A frase deixou-me tão satisfeita que acho que até fui embora a voar.
Tudo parecia fazer um sentido. O editor era o Abel. Hoje é o Álvaro ao serviço. Naturalmente tenho sempre menos trabalho.
De novo o sentimento de inutilidade.
Deixei de acreditar em coincidências. O método de trabalho é, definitivamente, diferente. Não me digam que é impressão minha. Já não acredito porque os factos não enganam.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Forte demais


Às vezes gostava de saber se estas coisas só me acontecem a mim. Detesto sentimentos de vitimização mas acabo por tê-los quando sinto que o mundo e a redacção se viram todos contra mim.
Ontem, quando pensava que o meu dia não seria mais básico do que uns meros telefonemas de casos do dia, eis que, ainda durante a manhã, o meu editor me avisa que sairá a reportagem sobre os alunos de arquitectura.
Fiquei feliz mesmo que esse anúncio tenha vindo acompanhado de uma série de mudanças que deveria fazer no artigo antes de ser publicado. O desafio não era grande, embora ele me tenha dito que poucas pessoas perceberiam aquilo de que se tratava o tema. Minutos depois surge o segundo desafio do dia: a fotografia. Não tinha levado fotógrafo comigo no dia em que falei com os estudantes de arquitectura. Por acaso tinha-me lembrado disso mas como acho que essa decisão não me cabe a mim e como até pensei que a dimensão do trabalho não fosse assim tão grande, não me preocupei. Mas enfim. O raspanete acabou por cair como uma bomba. Não tinha foto. E agora?

Ele disse que ia tratar de falar com um fotógrafo, à pressão, enquanto eu deveria falar com os alunos e tratar de saber a disponibilidade deles para uma "sessão fotográfica" na redacção. Ficou combinado para as 17h15. "Óptimo!" diz ele. "Mas faz sentido fotografar a cara deles?", perguntou. Eu disse que não sabia bem. (Mas afinal sou fotógrafa ou quê?) "Mas, oh filha.. tu é que fizeste o artigo.. tu é que deves saber! Mas afinal o que é que defendem eles?" Meti os pés pelas mãos e percebi que, afinal, eles não defendem nada de concreto e estavam a fazer-me passar por uma situação daquelas em que, supostamente, a jornalista, que sou eu, também não sabia do que estava a falar.

Minutos depois, enquanto tentava transformar a minha reportagem em algo acessível, diz-me o editor que "afinal a reportagem já não ia sair amanhã", mas a sessão de fotografias podia ficar marcada para "não voltar a acontecer o mesmo". Safei-me do stress, mas não me livrei do raspanete, mais uma vez, nem do sentimento de tristeza...
A tarde passou monótona. Mais uma vez a falta de ocupação. Mais uma vez o sentimento de inutilidade.
Os estudantes chegaram à hora marcada. Um fotógrafo transformou o terraço (que eu nem conhecia) numa espécie de estúdio e lá fotografou os jovenzinhos.
Ao fim do dia, antes de abandonar este espaço com o milésimo sentimento de estupidez, ouço alguém falar no meu nome para um trabalho na manhã do dia seguinte... Quis saber o que era mas o editor estava ocupado. Esperei e aguardei até que ele me disse que "afinal já não tinha nada. Foi adiado. Amanhã não ficas com nada".

Que novidade!

Que tristeza!

Que monotonia.

E diz-me aquilo com aquela naturalidade, como se o meu maior sonho fosse não fazer nada pelo enésimo dia consecutivo.
Cheguei a casa e chorei. Até não poder mais. Até não aguentar mais. Dei parte fraca. Foi um dia forte. Demais.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Só me vêem os calcanhares


Ontem, em conversa com uma colega de estágio, ela referia-se a alguém que já havia estagiado no Público e queixava-se de que, aqui, eles "só nos vêem os calcanhares".

Fiquei a pensar naquilo como se, de repente, a expressão passasse a fazer sentido e a aplicar-se a todas as situações do meu dia-a-dia.

Ver os calcanhares quando o noss corpo mede cerca de 1,60m é muito pouco. Olhar para os calcanhares quando temos tanto para mostrar e nos esforçamos por fazer o melhor é frustrante e pouco digno.

Acho que nem me posso queixar muito. Embora haja dias em que o trabalho não é em excesso, em que me sinto um total "mono" arrumado para um canto, há outros em que aquilo que há para fazer até compensa os dias menos bons.

Mas quando a Anabela me falou em "calcanhares" parece que tudo deixou de fazer sentido para me obrigar a pensar no real sentido das coisas.

Escrever sobre uma apreensão de droga, um esfaqueamento de um segurança, uma senhora que foi atropleada por um comboio deixa-nos poucas margens para mostrar a nossa qualidade.

Já tive várias oportunidades de desbundar à larga. Recordo com alegria a única reportagem que realmente me deu prazer a fazer e a escrever: a do Conservatório de Música do Porto e da Escola Soares dos Reis. Cinco mil caracteres. Que nunca tiveram um lugar no jornal. Será que algum dia irão ter? Do mesmo modo, há uma peça minha de cerca de quatro mil e tal caracteres a aguardar que se lembrem dela. Está na desk.

Se calhar por isso é que só me vêem os calcanhares. Porque quando quero mostrar os pés, não querem vê-los. Ou não têm tempo ou espaço para isso.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Inconstância

Depois de uma semana quase perfeita, em que não zoavam vozes de editores menos queridos, e em que o trabalho foi aparecendo todos os dias, mesmo que nem sempre fosse para publicação imediata, eis que a semana regressa à rotina.
Nada na agenda, nada nas ideias da estagiária, nada para escrever. O bom de se trabalhar em dois jornais ao mesmo tempo é o colmatar das falhas de um, com o excesso de trabalho do outro. Fui escrevendo para o Audiência, enquanto o Público me fazia sentir inútil. E é assim que terá que ser sempre que o tédio me invadir.
O estágio é assim. Já lá vai um mês de altos e baixos e sentimentos inconstantes. Ainda não sei dizer que sentimento me invade cada vez que penso nisto, que venho aqui. Será a vida de jornalista sempre esta inconstância e esta insegurança?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Dois editores

Isto de escrever para uma secção do jornal que é editada por duas (ou às vezes três) pessoas diferentes tem muitos e vários "senãos".
O primeiro é que, às vezes (e são muitas), sinto que eles não se entendem.
A segunda é que, como todas as pessoas do mundo, são diferentes e muito estranhos de trabalhar.
A terceira que, no fundo, acaba por ser uma consequência da segunda, é que também eu me vejo forçada a adaptar a cada uma das suas formas de ser e de trabalhar.
A quarta é que acho que gosto mais de um do que do outro. É calmo, pouco stressado, dá-nos atenção e até dá sugestões interessantes. Pelo contrário, não desata a berrar quando cometemos um erro para que todos os editores da mesa nos olhem como se fossemos monstros aberrantes. Fala baixo e, quando nos tem que advertir, apenas diz: "Cuidado... não deves conjugar assim o verbo".
Até come bolo ao lanche e nos oferece!

domingo, 5 de outubro de 2008

"Está bom"

Na sexta-feira fiquei contente por obter um feedback positivo por parte do sub-director.
"O teu texto está bom, Cristiana".
Era um texto de 1500 caracteres sobre uma apreensão de vestuário contrafeito. O tema até nem era interessante mas acabei por conseguir acrescentar boa informação ao conteúdo.
Qual o meu espanto quando, no dia seguinte, só apareceu cerca de metade de tudo aquilo que eu escrevi.
Não sei se terá sido por uma questão de espaço ou de falta de interesse.
Mas.. se estava bom porque é que cortaram?

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Posso desbundar? Ou sou cronista?

Ontem viajei no Metro do Porto sozinha e sem destino.
Acho que o excesso de liberdade e de desprendimento nunca ligaram muito bem comigo.
Afinal havia um pretexto, mesmo que eu quisesse esquecê-lo.

Era Dia Mundial da Música e a Orquestra Nacional do Porto viajava nas carruagens enquanto tocava excertos da 5ª Sinfonia de Beethoven.

Todo aquele pedaço de magia que me fez regressar à estação da Trindade, falar com espectadores e técnicos e terminar o percurso na Estação de São Bento onde centenas de crianças aguardavam o momento da tarde.

A Orquestra reuniu-se, finalmente, para tocar, na íntegra, toda a obra.

Cheguei à redacção. De fotologenda o trabalho passou a reportagem. A minha vontade era desbundar, dar largas à imaginação e escrever livremente. Mas o medo de ser reprimida ou novamente acusada de "cronista" assaltou-me e o artigo acabou por resultar num mero texto informativo.

E qual não é a minha surpresa quando o editor me pede que reformule o texto para algo mais "livre" e que o "fizesse sentir dentro da carruagem do metro".

O pedido caiu como uma bomba mas ao mesmo tempo como um suspiro de alívio. Pensei que seria a minha oportunidade de dar largas ao prazer e de mostrar aquilo de que realmente sou capaz.

"Por mim já te podes ir embora. Está impecável" foi o que ele disse e ainda só tinha lido o lead.

Eram 21h30 quando deixei a redacção.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Fez-se Justiça

O dia de ontem e, em consequência, o jornal de hoje marcou finalmente as minhas 3 semanas de estágio do Público.
Com muito ou pouco trabalho, sempre me foi surgindo um ou outro artigo para fazer. Muito ou pouco alterado, a verdade é que nunca nenhum deles mereceu a minha assinatura no cabeçalho. Não me perguntem porquê. Sempre escrevi artigos que cabiam num local da página que não deveria ser assinado, seja por qual for a razão.
Como é de imaginar, sempre me senti triste por isso. Não se trata aqui de uma questão de protagonismo, mas de uma questão de assumir a responsabilidade do meu trabalho e de poder mostrar a quem o vê que fui eu quem o fiz.
Para além disso, alguns dos artigos que fiz e que ocupariam mais espaço no jornal acabaram sempre por ficar na gaveta. Não cabiam, não mereceram atenção e foram ficando arrumados num canto da agenda.
Ontem, finalmente, mereci colocar três artigos no Local e, pela primeira vez, o meu nome consta das páginas do Público.
Era a única estágiária que nunca tinha tido esse privilégio.
Sabem o que me disse o editor quando comentei com ele essa estranha coincidência? "Bolas"

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Isto é assim...

Hoje dizia eu à Teresa:
"Isto é assim... chega-se a casa, chora-se um bocado e depois passa".
Amanhã é um novo dia.
HOJE é um novo dia.

Esperemos o que ele me reserva.

Se possível que não me reformulem a totalidade do artigo e que me façam sentir a mais burra à face da terra e do jornalismo que, afinal, parece que já não sei o que é.

Será que alguma vez soube?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Em agenda...



Há uma coisa que rege o quotidiano laboral dos jornalistas e que se chama "agenda". A agenda consiste na marcação de temas que deverão constar nas publicações seguintes e que são filtrados por uma pessoal responsável no jornal. Basicamente essa pessoa trata de seleccionar, do âmago de informações que chegam à redacção, aquelas cujo interesse merece ser noticiado.
Há dias em que o meu nome não consta em nenhum tema de agenda, o que pode significar duas coisas: 1ª passar o dia a morrer de tédio ou 2ª passar o dia a queimar neurónios à procura de um tema a sugerir. Por isso é que prefiro que, na coluna mais à direita daquele bloquinho de folhas A4 constem as iniciais CM. CM de Cristiana Maia. CM de mim.
Hoje é um desses dias. Só é pena que seja um trabalho que, embora interessante, me esteja a obrigar a esperar por respostas e confirmações... detesto esperar. Detesto estar dependente de outras pessoas. Sempre detestei. Acho que amo a minha independência acima de tudo embora não seja capaz de viver sem os outros.
Sou assim.
Hoje espero pelo tema de agenda. Amanhã? Quem sabe.
Sou eu quem está "em agenda..."

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Tudo de tudo ou nada de nada


Já me tinham dito e eu nunca quis acreditar.

"Haverá dias no estágio em que não fazemos quase nada e, outros, em que fazemos quase tudo".

Tirando o segundo dia de estágio (que dificilmente me sairá da memória como o dia da estupidez mórbida) acho que nunca me aconteceu ter que fazer "tudo de tudo". Bem, digamos que só a expressão já me assusta. Embora não me assuste tanto como a "nada de nada".

Terça e quarta-feira passaram monótonas, vazias, isto é, sem trabalho. Mas pior do que me sentir inútil, foi sentir mal recompensada. Eram 17h30 de terça-feira quando o editor me pediu que fizesse um pequeno artigo sobre a abertura de um centro comercial em Matosinhos.

O desafio não era grande, nem sequer me podia desprender do press release mas, apesar de tudo, sempre foi melhor do que nada até... ler o jornal do dia seguinte.

O meu artigo não saiu. Em vez disso, num caderno designado "Público Imobiliária" que, segundo consta, é pouco mais do que mera publicidade, um outro redactor ou publicitário ou qualquer coisa idêntica, publicou uma espécie de "chapa-sete" do press release que também eu tinha recebido.

O editor explicou-me que o meu artigo esteve, inclusive, paginado para sair. Mas acabou por ficar no "quase" e, dado o facto de o artigo repetitivo acrescentar à informação coisas que eu optei por não colocar, por estar limitada a 900 caracterees, teve direito a ser publicado em lugar do meu.

Se fiquei triste? Afinal nem era nada de especial. Foi uma espécie de "rebuçado" como aqueles que dão às crianças quando estão amuadas de tédio. Mas depois de o comer sabem o que me aconteceu? Ficou entalado no meio da garganta.


A recompostura

Depois desses célebres acontecimentos e, quando a minha cabeça ia explodindo de tanto pensar em sugestões para dar, eis que surge a brilhante ideia de sugerir um artigo sobre uma medida recente tomada pela CP relativa ao transporte de bicicletas nos comboios.

Felizmente foi bem aceite. Enquanto escrevo isto aguardo uma chamada do presidente da Federação Nacional de Cicloturistas que espero que venha a enriquecer a minha notícia.

Em lista de espera tenho um artigo de agenda.

Parece que as coisas se estão a recompor. Pelo menos até à próxima recaída na monotonia da inutilidade.

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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

E tudo está a mudar... pelo menos por três meses


Era para ter começado no dia 10 de Setembro, mas foi adiado para o dia seguinte o início da nova etapa da minha vida.

A decisão de vir estagiar para o Público correspondeu mais à necessidade de auto-superação do que a qualquer perspectiva de desempenhar um trabalho bom ou fácil.

Por outro lado, sei que daria uma felicidade ao meu pai. A verdade é que ele nunca teve grande orgulho na minha carreira e esse perdeu-se ainda mais no dia em que decidi optar definitivamente pelo Jornalismo. Talvez ao escolher o jornal que ele lê todos os dias possa ajudar a atear um pouco a minha credibilidade e as razões da minha escolha.


A redacção

O que mais me surpreendeu no ambiente e que contrariou a minha ideia pré-concebida de pseudo-redacção é a calma aparente que se faz sentir.

Quais jornalistas stressados qual quê?

Se o (pouco) trabalho me tivesse permitido abandonar as instalações antes das 21h logo no segundo dia, talvez nunca viesse a conhecer aquilo que realmente eu pensava que era "a redacção do Público".

É verdade. Quando eu pensava que o segundo dia de estágio (ou, na prática, o primeiro) não seria mais do que a continuação de um conhecimento superficial do novo local de trabalho eis que, às 17h30 , o editor me pede que faça uma pequena notícia sobre a manchete do dia anterior do JN.

Parece que dois menores foram acusados de violar um miúdo de seis anos. No mínimo o caso parecia-me macabro. E isso era apenas o que eu pensava antes de me aperceber que 900 caracteres são uma infinidade de letras quando não há nada a acrescentar àquilo que toda a gente já sabe.

Felizmente que uma jornalista com a agenda recheada de contactos se ofereceu para me ajudar, mesmo que, quatro horas depois, o estado da minha notícia não fossem absolutamente nada diferente do que aquilo que o JN havia dito no dia anterior.

Eram 21h quando abandonei a redacção e o sentimento de tristeza e de inutilidade começou a acentuar-se logo no segundo dia de trabalho. Era sexta-feira e nem o fim-de-semana me alegrava.

Definitivamente a minha vida estava a mudar mas, pelo menos, no sábado o meu pai poderia dar-se por contente por, no dia seguinte, se dar "ao luxo" de ler um artigo escrito por mim "num jornal dito de referência nacional".

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