quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A maior alegria

O dia de ontem foi provavlemente o mais importante ou, pelo menos, o mais recompensador de todo o meu estágio. E surgiu, ironia do destino, precisamente a meio deste percurso de três meses.
Consegui que saisse a reportagem que tanto gostei de fazer. E o editor decidiu abrir o caderno com ela.
Provavelmente vai passar ao lado dos leitores, quem sabe nem os chame à atenção... mas, para mim, foi a maior alegria que me poderiam ter dado.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Montanha Russa


Às vezes (não muitas, mas algumas) há quem me pergunte como está a correr o estágio.

Nunca sei o que responder. Não quero dar uma reposta negativa para não transmitir um péssimo feedback de tudo o que acontece cá. Mas a resposta nunca é de tal empolgância que me mostre radiante com a nova experiência.

Talvez o melhor a dizer seja que tudo se trata de uma verdadeira montanha russa. Passo a maior parte dos dias em queda livre, numa experiência emocionante de novas aventuras, novos textos, novas lutas com o limite de caracteres. Com o passar do tempo, a quantidade de trabalhos vai surgindo, a agenda vai tendo um ou outro assunto reservado para mim. Fico contente quando assim é. Gosto de estar ocupada e de desbravar esse caminho sozinha.

Gosto de ter oportunidade de demonstrar aquilo que valho, mesmo que os desafios sejam grandes e por vezes me sinta perdida, pequena, sem capacidades para contornar os obstáculos.

Já chorei, já tive medo. Mas aos poucos a confiança vai-se adquirindo.

Como numa montanha russa em que o medo vai fugindo por debaixo dos carris e à medida que o vento na cara é tal que parece que nos corta a respiração.

Subir e descer como quem procura o infinito. Aguentar as quedas com a força de quem quer subir alto, até atingir o céu.

É assim que enfrento o dia-a-dia. Cada dia como um novo percurso, uma nova aventura, uma tal de subtil confiança.

Mesmo que nunca tenha gostado de aventuras, mesmo que deteste montanhas-russas, mesmo que nunca tenha entrado numa. Quem nelas anda, diz que é assim. E eu acredito. Como gosto de acreditar que, um dia, hei-de estar pronta para encarar esta vida de altos e baixos que o Público me tem dado.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Duas pessoas, dois sentimentos

A semana começou bem... um telefonema no domingo a prometer um trabalho para segunda. Qualquer outra pessoa ficaria preocupada, apreensiva ou nervosa. Eu fiquei preenchida por uma felicidade inexplicável. Parece que as coisas se começavam a equilibrar.
Terça-feira, mais um telefonema. Desta vez pelo próprio editor que "gostava que eu fosse à apresentação do novo Hospital de Santa Maria". A frase deixou-me tão satisfeita que acho que até fui embora a voar.
Tudo parecia fazer um sentido. O editor era o Abel. Hoje é o Álvaro ao serviço. Naturalmente tenho sempre menos trabalho.
De novo o sentimento de inutilidade.
Deixei de acreditar em coincidências. O método de trabalho é, definitivamente, diferente. Não me digam que é impressão minha. Já não acredito porque os factos não enganam.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Forte demais


Às vezes gostava de saber se estas coisas só me acontecem a mim. Detesto sentimentos de vitimização mas acabo por tê-los quando sinto que o mundo e a redacção se viram todos contra mim.
Ontem, quando pensava que o meu dia não seria mais básico do que uns meros telefonemas de casos do dia, eis que, ainda durante a manhã, o meu editor me avisa que sairá a reportagem sobre os alunos de arquitectura.
Fiquei feliz mesmo que esse anúncio tenha vindo acompanhado de uma série de mudanças que deveria fazer no artigo antes de ser publicado. O desafio não era grande, embora ele me tenha dito que poucas pessoas perceberiam aquilo de que se tratava o tema. Minutos depois surge o segundo desafio do dia: a fotografia. Não tinha levado fotógrafo comigo no dia em que falei com os estudantes de arquitectura. Por acaso tinha-me lembrado disso mas como acho que essa decisão não me cabe a mim e como até pensei que a dimensão do trabalho não fosse assim tão grande, não me preocupei. Mas enfim. O raspanete acabou por cair como uma bomba. Não tinha foto. E agora?

Ele disse que ia tratar de falar com um fotógrafo, à pressão, enquanto eu deveria falar com os alunos e tratar de saber a disponibilidade deles para uma "sessão fotográfica" na redacção. Ficou combinado para as 17h15. "Óptimo!" diz ele. "Mas faz sentido fotografar a cara deles?", perguntou. Eu disse que não sabia bem. (Mas afinal sou fotógrafa ou quê?) "Mas, oh filha.. tu é que fizeste o artigo.. tu é que deves saber! Mas afinal o que é que defendem eles?" Meti os pés pelas mãos e percebi que, afinal, eles não defendem nada de concreto e estavam a fazer-me passar por uma situação daquelas em que, supostamente, a jornalista, que sou eu, também não sabia do que estava a falar.

Minutos depois, enquanto tentava transformar a minha reportagem em algo acessível, diz-me o editor que "afinal a reportagem já não ia sair amanhã", mas a sessão de fotografias podia ficar marcada para "não voltar a acontecer o mesmo". Safei-me do stress, mas não me livrei do raspanete, mais uma vez, nem do sentimento de tristeza...
A tarde passou monótona. Mais uma vez a falta de ocupação. Mais uma vez o sentimento de inutilidade.
Os estudantes chegaram à hora marcada. Um fotógrafo transformou o terraço (que eu nem conhecia) numa espécie de estúdio e lá fotografou os jovenzinhos.
Ao fim do dia, antes de abandonar este espaço com o milésimo sentimento de estupidez, ouço alguém falar no meu nome para um trabalho na manhã do dia seguinte... Quis saber o que era mas o editor estava ocupado. Esperei e aguardei até que ele me disse que "afinal já não tinha nada. Foi adiado. Amanhã não ficas com nada".

Que novidade!

Que tristeza!

Que monotonia.

E diz-me aquilo com aquela naturalidade, como se o meu maior sonho fosse não fazer nada pelo enésimo dia consecutivo.
Cheguei a casa e chorei. Até não poder mais. Até não aguentar mais. Dei parte fraca. Foi um dia forte. Demais.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Só me vêem os calcanhares


Ontem, em conversa com uma colega de estágio, ela referia-se a alguém que já havia estagiado no Público e queixava-se de que, aqui, eles "só nos vêem os calcanhares".

Fiquei a pensar naquilo como se, de repente, a expressão passasse a fazer sentido e a aplicar-se a todas as situações do meu dia-a-dia.

Ver os calcanhares quando o noss corpo mede cerca de 1,60m é muito pouco. Olhar para os calcanhares quando temos tanto para mostrar e nos esforçamos por fazer o melhor é frustrante e pouco digno.

Acho que nem me posso queixar muito. Embora haja dias em que o trabalho não é em excesso, em que me sinto um total "mono" arrumado para um canto, há outros em que aquilo que há para fazer até compensa os dias menos bons.

Mas quando a Anabela me falou em "calcanhares" parece que tudo deixou de fazer sentido para me obrigar a pensar no real sentido das coisas.

Escrever sobre uma apreensão de droga, um esfaqueamento de um segurança, uma senhora que foi atropleada por um comboio deixa-nos poucas margens para mostrar a nossa qualidade.

Já tive várias oportunidades de desbundar à larga. Recordo com alegria a única reportagem que realmente me deu prazer a fazer e a escrever: a do Conservatório de Música do Porto e da Escola Soares dos Reis. Cinco mil caracteres. Que nunca tiveram um lugar no jornal. Será que algum dia irão ter? Do mesmo modo, há uma peça minha de cerca de quatro mil e tal caracteres a aguardar que se lembrem dela. Está na desk.

Se calhar por isso é que só me vêem os calcanhares. Porque quando quero mostrar os pés, não querem vê-los. Ou não têm tempo ou espaço para isso.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Inconstância

Depois de uma semana quase perfeita, em que não zoavam vozes de editores menos queridos, e em que o trabalho foi aparecendo todos os dias, mesmo que nem sempre fosse para publicação imediata, eis que a semana regressa à rotina.
Nada na agenda, nada nas ideias da estagiária, nada para escrever. O bom de se trabalhar em dois jornais ao mesmo tempo é o colmatar das falhas de um, com o excesso de trabalho do outro. Fui escrevendo para o Audiência, enquanto o Público me fazia sentir inútil. E é assim que terá que ser sempre que o tédio me invadir.
O estágio é assim. Já lá vai um mês de altos e baixos e sentimentos inconstantes. Ainda não sei dizer que sentimento me invade cada vez que penso nisto, que venho aqui. Será a vida de jornalista sempre esta inconstância e esta insegurança?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Dois editores

Isto de escrever para uma secção do jornal que é editada por duas (ou às vezes três) pessoas diferentes tem muitos e vários "senãos".
O primeiro é que, às vezes (e são muitas), sinto que eles não se entendem.
A segunda é que, como todas as pessoas do mundo, são diferentes e muito estranhos de trabalhar.
A terceira que, no fundo, acaba por ser uma consequência da segunda, é que também eu me vejo forçada a adaptar a cada uma das suas formas de ser e de trabalhar.
A quarta é que acho que gosto mais de um do que do outro. É calmo, pouco stressado, dá-nos atenção e até dá sugestões interessantes. Pelo contrário, não desata a berrar quando cometemos um erro para que todos os editores da mesa nos olhem como se fossemos monstros aberrantes. Fala baixo e, quando nos tem que advertir, apenas diz: "Cuidado... não deves conjugar assim o verbo".
Até come bolo ao lanche e nos oferece!

domingo, 5 de outubro de 2008

"Está bom"

Na sexta-feira fiquei contente por obter um feedback positivo por parte do sub-director.
"O teu texto está bom, Cristiana".
Era um texto de 1500 caracteres sobre uma apreensão de vestuário contrafeito. O tema até nem era interessante mas acabei por conseguir acrescentar boa informação ao conteúdo.
Qual o meu espanto quando, no dia seguinte, só apareceu cerca de metade de tudo aquilo que eu escrevi.
Não sei se terá sido por uma questão de espaço ou de falta de interesse.
Mas.. se estava bom porque é que cortaram?

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Posso desbundar? Ou sou cronista?

Ontem viajei no Metro do Porto sozinha e sem destino.
Acho que o excesso de liberdade e de desprendimento nunca ligaram muito bem comigo.
Afinal havia um pretexto, mesmo que eu quisesse esquecê-lo.

Era Dia Mundial da Música e a Orquestra Nacional do Porto viajava nas carruagens enquanto tocava excertos da 5ª Sinfonia de Beethoven.

Todo aquele pedaço de magia que me fez regressar à estação da Trindade, falar com espectadores e técnicos e terminar o percurso na Estação de São Bento onde centenas de crianças aguardavam o momento da tarde.

A Orquestra reuniu-se, finalmente, para tocar, na íntegra, toda a obra.

Cheguei à redacção. De fotologenda o trabalho passou a reportagem. A minha vontade era desbundar, dar largas à imaginação e escrever livremente. Mas o medo de ser reprimida ou novamente acusada de "cronista" assaltou-me e o artigo acabou por resultar num mero texto informativo.

E qual não é a minha surpresa quando o editor me pede que reformule o texto para algo mais "livre" e que o "fizesse sentir dentro da carruagem do metro".

O pedido caiu como uma bomba mas ao mesmo tempo como um suspiro de alívio. Pensei que seria a minha oportunidade de dar largas ao prazer e de mostrar aquilo de que realmente sou capaz.

"Por mim já te podes ir embora. Está impecável" foi o que ele disse e ainda só tinha lido o lead.

Eram 21h30 quando deixei a redacção.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Fez-se Justiça

O dia de ontem e, em consequência, o jornal de hoje marcou finalmente as minhas 3 semanas de estágio do Público.
Com muito ou pouco trabalho, sempre me foi surgindo um ou outro artigo para fazer. Muito ou pouco alterado, a verdade é que nunca nenhum deles mereceu a minha assinatura no cabeçalho. Não me perguntem porquê. Sempre escrevi artigos que cabiam num local da página que não deveria ser assinado, seja por qual for a razão.
Como é de imaginar, sempre me senti triste por isso. Não se trata aqui de uma questão de protagonismo, mas de uma questão de assumir a responsabilidade do meu trabalho e de poder mostrar a quem o vê que fui eu quem o fiz.
Para além disso, alguns dos artigos que fiz e que ocupariam mais espaço no jornal acabaram sempre por ficar na gaveta. Não cabiam, não mereceram atenção e foram ficando arrumados num canto da agenda.
Ontem, finalmente, mereci colocar três artigos no Local e, pela primeira vez, o meu nome consta das páginas do Público.
Era a única estágiária que nunca tinha tido esse privilégio.
Sabem o que me disse o editor quando comentei com ele essa estranha coincidência? "Bolas"