terça-feira, 4 de novembro de 2008

Textos da Anita

Na quinta-feira da semana passada passou-se uma das situações mais embaraçosas desde que estou no Público.

O meu editor, Álvaro, pediu-me para o acompanhar junto de uma jornalista que se senta do outro lado da sala. Apresentou-nos e disse-me que, no dia anterior, quando tinhamos estado a corrigir aquele meu texto que mereceu abertura de secção, ela lhe tinha dado "um ralhete por" minha causa. As palavras dele foram estas. E a minha cara deve ter sido de pavor, de confusão de... "porquê?"

"Acho que ele foi muito bruto contigo!", disse-me com ar de clemência a Natália. É fácil imaginar que a minha expressão deve ter passado por uma fase que não sei qualificar. "Oh, não foi nada", disse eu, quase a cair para o lado.

"A Natália acha que eu disse que o teu texto parecia retirado de um livro da Anita", disse-me o Álvaro. "Mas eu expliquei-lhe que utilizei esse exemplo só a propósito de uma frase tua, que achei demasiado infantil, não foi Cristiana?", continuou querendo justificar-se. "Foi, foi só por causa de uma frase", disse eu anestesiada, como se estivesse a ser subornada em silêncio pelo olhar de autoridade do Álvaro.

Convicto de que, ali, a surpreendida era eu e que, afinal, tudo não passou de um mal entendido, o Álvaro saiu de lá e eu permaneci, colada ao chão, a olhar para a Natália, sentada e ainda com o mesmo ar de pena que me fez corar até à raiz dos cabelos. (esta expressão era escusada... eu coro por tudo e por nada, mas enfim).

"Agora a sério... Ele foi bruto. Ele é muito bruto a falar com as pessoas e não podes deixar. Sê bruta com ele também", disse-me ela. Eu, ainda atarantada, disse que "já estava habituada". Não sei se ela percebeu que aquela pequena frase era a explicação para tudo, que não era preciso eu dizer mais nada. Por isso disse-lhe "obrigada", como se ela fosse minha advogada de defesa, e saí.

Quis tanto chorar que nem sabia bem porquê.

Toda a gente da redacção ouve a forma como ele fala comigo (e com os restantes estagiários, penso eu). Já tinha duvidado disso, mas obtive, naquele dia, a confirmação. E doeu tanto...

Continua a doer cada vez que penso nisso. Porque penso na ideia que transparece para as pessoas que o ouvem. Naquele dia permaneceu a ideia de que eu escrevia textos da Anita.

1 comentário:

Monique Mendes disse...

Um abraço para te dar força!

Se há momentos em que as palavras valem pouco este é um deles, até porque nem as tenho. Espero e desejo apenas que alguém "aí" veja o talento que tens e tudo aquilo que tens para dar!

Força Cris! *